Quem lê tanta notícia?

Maíra Cabral Piccin é jornalista e diretora em empresa de comunicação integrada

O relógio ainda não marcava as 8 horas de uma manhã de quarta-feira de muito trabalho e eu sequer tinha terminado de ler as notícias quando o email de um cliente me puxou mais cedo para a rotina corporativa. “Ficou ótima a nota que saiu hoje no jornal. Meio mundo já me mandou mensagem, comentando”.

É claro que havia um tanto de exagero em dizer que uma multidão, já àquela hora do dia, tinha visto e comentado a nota. O recado, porém, estava mais do que claro: o material produzido pela assessoria de imprensa chegou a quem interessava. Mais tarde, numa conversa por telefone, ele voltou a falar da repercussão da nota, comentando que o tal “meio mundo” era composto por formadores de opinião ligados a sua área. Não sei qual era o número real por trás da força de expressão. Talvez nem dez pessoas formassem o tal “meio mundo”, mas isso não fazia a menor diferença. O que importava é que eram todos de influência na atividade do cliente.

“O jornal pode já não ser lido por todos, mas é lido pelas pessoas certas”, disse outro cliente, com um baita sorriso no rosto, comemorando o fato de que, graças a uma matéria com sua participação publicada em uma edição de domingo, ganhou a simpatia de um investidor.

Esses relatos nos recordam que nem tudo hoje na comunicação é digital e os jornais permanecem como ferramentas importantes para a construção da reputação das marcas. Por meio deles, as empresas podem não apenas, ou não necessariamente, se relacionar com seu consumidor final, mas também com figuras-chave para seus negócios. Daí a importância de se fazer presente entre as fontes.

Os jornais mantêm um prestígio imenso diante de um público bastante qualificado.  E público qualificado não tem a ver apenas com intelectuais, políticos e empresários que decidem os rumos do mundo. Tem a ver, sobretudo, com gente interessante, seja ela quem for, e para quem estar bem informado é um valor.

Como o motorista de uma figura influente capixaba, que com base em suas leituras diárias, discute, com propriedade, as mudanças do cenário do País com seu chefe. Ou o pintor que por décadas cuidou das paredes da minha casa e que sempre estava pronto para debater as notícias do dia com quem estivesse por perto.

Cabe lembrar que a fidelidade aos jornais tem a ver com a credibilidade do meio. Recentemente, uma pesquisa encomendada pelo governo federal ao Ibope os colocou mais uma vez como o meio de comunicação mais confiável para os brasileiros, além de indicar que a confiança do público e os índices de leitura cresceram em relação às sondagens anteriores. A pesquisa, realizada com 15 mil pessoas, detectou ainda aumento da desconfiança em relação a blogs e sites – o que não é de espantar, tendo em vista os transtornos causados com frequência no Brasil e no mundo devido a boatos e notícias falsas que circulam na web.

Há, sim senhores, uma multidão que lê tanta notícia e não abre mão dos jornais. Seja ainda à mesa, no café da manhã, seja entre a banca de jornal e o caminho do trabalho, ou, cada vez mais, o dia inteiro, nas plataformas digitais. E em nome dos negócios, essa multidão deve ser conquistada pelas marcas.

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